Cuidar do coração é urgente diante do aumento de infartos entre os jovens
Por Renata Bueno, ex-parlamentar italiana e advogada internacional
Publicado em 02/10/2025 23:34
Geral

O Dia Mundial do Coração, celebrado em 29 de setembro, é um convite à reflexão sobre a saúde cardiovascular — um tema que ganha cada vez mais urgência diante do crescimento alarmante dos casos de infarto, sobretudo entre jovens. Pesquisas recentes mostram que fatores como estresse, sedentarismo e alimentação inadequada estão no centro dessa tendência preocupante.

Como ex-parlamentar e advogada, sempre defendi políticas públicas voltadas à promoção do bem-estar e da prevenção. Hoje, reforço que essa é uma responsabilidade compartilhada: governos, instituições e cada indivíduo devem agir para proteger o coração. A realidade é especialmente grave em países como Brasil e Itália, onde estudos recentes revelam um impacto crescente em faixas etárias cada vez mais jovens.

A situação no Brasil

No Brasil, o cenário é alarmante. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), houve um aumento de 62% nas mortes por infarto entre mulheres de 15 a 49 anos. Dados do Ministério da Saúde mostram ainda que, em pessoas com menos de 40 anos, a taxa de internações subiu de menos de 2 casos por 100 mil habitantes em 2000 para quase 5 em 2024 — um crescimento de cerca de 180%.

Entre jovens de 25 a 29 anos, a incidência mais que triplicou, saltando de 1,43 para quase 5 casos por 100 mil habitantes. Esse avanço está diretamente ligado a mudanças no estilo de vida, agravadas pela pandemia, que resultaram, por exemplo, em um aumento de 90% nos índices de obesidade entre jovens de 18 a 24 anos.

Em 2024, mais de 271 mil brasileiros morreram por complicações cardíacas. Hoje, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no país, responsáveis por cerca de 350 mil óbitos anuais — o equivalente a uma morte a cada 40 segundos, ou 1.100 por dia. Fatores como hipertensão, colesterol elevado, sobrepeso, tabagismo e uso crescente de cigarros eletrônicos e anabolizantes ampliam os riscos.

O cenário na Itália

Na Itália, a realidade não é menos preocupante. Dados da Associazione Nazionale Medici Cardiologi Ospedalieri (Anmco) mostram que o número de infartos entre jovens cresceu de cerca de 5 mil para mais de 6 mil casos por ano. Além disso, a morte cardíaca súbita atinge aproximadamente 1.000 pessoas com menos de 35 anos anualmente, muitas delas atletas ou indivíduos considerados saudáveis.

O tabagismo, especialmente entre mulheres jovens, multiplica em até seis vezes o risco cardiovascular. O uso de cigarros eletrônicos, somado ao estresse crônico, também contribui para o agravamento do quadro. Estudos apontam que 41% dos italianos entre 18 e 69 anos apresentam pelo menos três fatores de risco cardiovascular, e a obesidade vem crescendo em idades cada vez mais precoces.

A pandemia deixou um legado pesado: em alguns contextos, a mortalidade por infarto triplicou. Isso reforça a necessidade de medidas preventivas mais eficazes e abrangentes.

O peso do estresse e da saúde mental

Pesquisas internacionais, como a conduzida pelo Belfast Health and Social Care Trust em parceria com o Royal College of Surgeons (Irlanda), revelam um dado curioso: o risco de infarto é 13% maior às segundas-feiras, fenômeno conhecido como “efeito segunda-feira”. A transição brusca do descanso para as pressões do trabalho eleva os níveis de estresse e impacta diretamente a saúde do coração.

Somam-se a isso os transtornos de ansiedade e depressão, que estão cada vez mais presentes entre os jovens. Esses quadros não apenas prejudicam o equilíbrio emocional, mas também favorecem hábitos alimentares inadequados, sedentarismo e abandono de práticas saudáveis — criando um círculo vicioso que compromete a saúde cardiovascular.

A prevenção como prioridade

Se há uma certeza, é esta: prevenir é melhor do que remediar. Consultas médicas regulares e exames como eletrocardiogramas, testes de esforço e avaliações de colesterol e pressão arterial são ferramentas essenciais para identificar riscos antes que se tornem fatais.

Mudanças no estilo de vida também têm impacto imediato. Uma alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes, verduras e grãos integrais; a prática regular de exercícios físicos; noites de sono reparadoras e estratégias de gerenciamento do estresse, como meditação ou terapia, são passos fundamentais. Evitar substâncias nocivas, como tabaco, bebidas alcoólicas em excesso e anabolizantes, é igualmente indispensável.

Um compromisso coletivo e individual

O crescimento dos casos de infarto não é apenas uma estatística, mas um alerta global. Governos, organizações de saúde e sociedade civil precisam investir em campanhas de conscientização, ampliar o acesso a exames preventivos e criar ambientes que favoreçam escolhas saudáveis.

Mas também cabe a cada um de nós assumir o protagonismo do autocuidado. Pequenas mudanças diárias, quando somadas, têm o poder de salvar vidas.

O Dia Mundial do Coração não deve ser apenas uma data no calendário, mas um chamado para um compromisso permanente: cuidar do coração é um gesto de amor consigo mesmo e com quem está ao nosso redor. Que possamos construir um futuro em que o infarto seja a exceção — e não a regra.

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