DIAGNÓSTICO DE AUTISMO MUDA VIDA DE MÃE E INSPIRA INCLUSÃO
Publicado em 23/06/2025 02:54 • Atualizado 23/06/2025 02:55
Cultura

Aos 33 anos, a advogada, professora e palestrante Vanessa Ziotti recebeu uma notícia que transformaria completamente sua compreensão sobre si mesma: o diagnóstico de autismo. Mãe de trigêmeos autistas, ela viveu por décadas com diagnósticos parciais — como depressão, ansiedade e transtornos alimentares — sem que a verdadeira origem de suas dificuldades fosse identificada.

“Primeiro eu entrei em negação. Achei que tinha mentido para a profissional que me avaliou”, conta Vanessa, em entrevista à Catraca Livre, durante o Abril Azul — mês dedicado à conscientização do autismo.

O diagnóstico, no entanto, foi libertador. “Me permitiu acolher a mim mesma, da mesma forma que acolhi meus meninos”, afirma.

Vivência marcada por superação

Desde a infância, Vanessa criou estratégias para se adaptar ao mundo neurotípico. Diagnosticada também com altas habilidades, acredita que esse fator mascarou os sinais do autismo por anos. “Decorei livros inteiros porque não entendia exatas”, relembra. Nos ambientes sociais, imitava gestos e estilos de outras pessoas para se sentir aceita.

Hoje, ela atua no gabinete da deputada Andréa Werner, referência na pauta da inclusão, e diz finalmente sentir pertencimento: “Não tenho mais medo de ser julgada por ser quem eu sou.”

O impacto do "masking"

Vanessa explica que, para enfrentar o cotidiano, ativa o que chama de “modo CNPJ” — uma espécie de personagem funcional usado em reuniões e eventos públicos. Mas esse esforço tem um custo alto: “Chego a sentir febre, dor no corpo. O esforço para parecer ‘adequada’ socialmente cobra um preço físico e emocional.”

Segundo a neuropsicóloga Helena Cubero, esse comportamento é conhecido como masking, comum entre autistas adultos. “Envolve suprimir estereotipias, forçar contato visual e ensaiar interações, o que leva à exaustão, ansiedade e perda de identidade.”

Redescoberta e acolhimento

Após o diagnóstico, Vanessa reconfigurou suas relações pessoais: “Hoje, meus amigos são majoritariamente neurodivergentes. Encontrei um lugar de acolhimento real.” Ela também aprendeu a impor limites e respeitar suas necessidades sensoriais e sociais.

Como mensagem a outros adultos em processo de diagnóstico, ela reforça a importância das redes de apoio e do autoconhecimento: “O diagnóstico não é o fim, é um espelho e um ponto de partida.”

 

Comentários